Por Giullia Moreira
Celebrado no dia 11 de maio, o Dia Nacional do Reggae resgata memórias repletas de afeto e saudade do cantor Bob Marley, responsável pela difusão do ritmo jamaicano no mundo todo. Com canções que pregam o amor, a positividade e o fim de conflitos sociais, o reggae alcançou fãs internacionalmente e ainda impacta muitas pessoas com suas mensagens etéreas.
No Pará, este gênero se uniu a outros ritmos e estilos musicais locais, criando grandes artistas e festas. Neste mês, no dia 21 de maio, será realizado no Complexo do Ver-o-Rio o 26º Tributo Bob Marley. A programação contará com diversos shows, entre eles o da banda Tropical Reggae, composta apenas por mulheres.
A criadora da banda Adria Soares, que também é guitarrista, compartilhou com o Portal Jambu um pouco da sua história e da trajetória da banda. Confira a entrevista abaixo:
- Então, Adria, vamos falar sobre o início da banda. Como e quando foi que surgiu a Tropical Reggae?
Bom, a Tropical Reggae se iniciou em maio de 2014. Na época, uns amigos e eu acabamos formando esse projeto para participar dos eventos de reggae que tinham, principalmente o do Tributo Bob Marley, que é um dos maiores que temos aqui no estado. Aí acabou que o som ficou tão bom que a gente deu continuidade.
- Quais as principais referências musicais de vocês?
Bom, na verdade, o reggae é meio que dividido em estilos. Nós temos o roots e o Rute que é basicamente uma uma divisão bem singela do gênero Bob Marley, Peter Tosh, esse são os maiores nomes assim do reggae internacional, mas também temos as nossas referências femininas né? Como a própria Rita Marley, Marcia Griffiths e Donna Marie… Há muitas referências que a gente pode colocar aqui, mas essas são bem significativas porque é onde a gente consegue se identificar mais.
- Como você entrou no mercado da música? E como você chegou ao reggae?
Eu sempre falo que a música foi um presente que Deus me deu na vida, porque desde criança eu sempre tive essa certeza de que eu ia trabalhar com música, que eu ia tocar, ser musicista. Na primeira vez que eu vi um violão na minha frente, foi um impacto muito grande. E eu disse: eu quero isso. Aí eu estudei, procurei aprender a me colocar dentro do mercado como musicista, e o reggae chegou na minha vida também como uma benção de Deus.
A gente, quando começa a tocar na noite, a gente acaba passeando por muitos gêneros. Eu toquei com muitas bandas, eu toquei vários gêneros desde o brega, ao forró, carimbó, rock, mas o reggae foi uma coisa peculiar na minha vida e é o que eu carrego como algo muito, muito profissional também, não apenas uma questão de gosto. Eu trabalho com reggae desde a criação da Tropical, em 2014, e estou aí desde então. A Tropical é o carro-chefe.
- Vocês também trabalham com a composição das músicas? Como funciona esse processo de criação de vocês?
Esse ano, a gente reformulou o projeto da banda. Agora, a gente tem uma compositora e cantora incrível que é a Lorena Monteiro, uma das vozes mais bonitas que existem no nosso estado, e ela tem algumas composições, algumas gravações feitas, e ela entrou dando esse peso tremendo dentro da Tropical pra gente poder abrir esse leque de composições. Não só composições, como versões alternativas de músicas também. A gente prioriza muito isso, a gente tem intérpretes incríveis no nosso estado, mulheres de nome, de cultura muito forte, e a gente tem como base isso: trazer esse autoral mostrando a nossa diversidade do nosso estado juntamente com o reggae e trazendo essas versões dessas cantoras do Pará, também que são de extrema importância pra gente.
- Vocês são uma banda 100% feminina e produzem músicas para um gênero que, durante muitos anos, foi de predominância masculina. Vocês passaram por muitos desafios no cenário da música por conta disso? E como vocês atravessam esses momentos de maior dificuldade em relação a esses preconceitos?
A Tropical Reggae é uma banda de resistência. O reggae é resistência. E uma banda de reggae só de mulheres… eu acho que é uma resistência em dobro, né? Eu acho que nessa questão de mulheres atuando em áreas nas quais os homens têm mais atuação, pra gente é a forma de mostrar que nós temos a total capacidade de fazer o mesmo som, mostrando que o reggae, assim como todos os outros gêneros, merecem ter mulheres no destaque também.
Nós estamos com um time incrível de mulheres na formação da Tropical. A gente não quer dividir, a gente não quer também brigar, não é essa a nossa intenção. A nossa intenção é mostrar pra meninas que também tem o mesmo sonho de serem musicistas, que gostam não só do reggae, mas de música, essa oportunidade de nos ver na frente tocando, mostrando que isso é possível também.
Esse é um dos ideais da Tropical: é mostrar que todas nós tocamos com excelência e que isso não seja só com a gente, seja com com outros gêneros, com outras mulheres, com outros grupos e que a gente se fortifique como sociedade e como mulheres pra que isso seja cada vez mais contínuo no nosso meio.
Que mulheres toquem mais, que se apresentem mais, que sejam mais vistas! Eu acredito que nós, da Tropical, sempre vamos levantar essa bandeira.
- Para você, enquanto líder do Tropical Reggae, qual o diferencial da banda comparada a outras referências do gênero em Belém?
Bom, a Tropical está dentro de um circuito de bandas excelentíssimas que existem aqui em Belém. Belém, assim como o Maranhão, tem um peso muito forte do reggae, as pessoas vivem isso, as pessoas consomem essa cultura. O reggae é realmente uma coisa que transforma a vida de uma pessoa quando você entende de fato o que é. A Tropical teve a oportunidade de estar junto com outras bandas grandes aqui do nosso estado.
Não digo que a gente seja um diferencial, mas eu digo que a gente também está pra somar. Somos uma banda só de mulheres. Eu acho que esse já é o grande diferencial. Nós também temos essa proposta do nosso show especial, o “Divas do Reggae”, que é um repertório só de mulheres, só de vozes femininas, tanto do reggae nacional, internacional, versões que a gente faz das nossas cantoras daqui. Enfim, a gente está pra somar. Sempre. O reggae é isso, é resistência, é irmandade, a gente sempre quer transmitir essa mensagem de que a gente unido a gente consegue muita coisa, então a visão é essa.
- A gente ficou sabendo que vocês estarão na programação do tributo ao Bob Marley. Podem dar um spoiler pra gente de como está essa setlist?
A gente preparou um setlist bem, bem legal. A gente vai fazer uma mesclagem com músicas do mestre Bob Marley, com versões também, e trazer um pouquinho do nosso show, do nosso especial “Divas do Reggae”. Vai ter alguns clássicos mesmo, daquele que só quem é regueiro mesmo conhece, e a gente espera todo mundo lá no dia 21.
- Pra quem quer conhecer mais do mundo do reggae, o que você indicaria pra ouvir?
A minha dica é começar pelos clássicos, como o Bob Marley. Nós temos essa referência porque ele foi o precursor do reggae. Ele tem músicas fortíssimas que quem ouvir, vai mudar a sua vida, pois falam da vivência, da nossa realidade enquanto sociedade. Então o Bob Marley é sempre a pedida!
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O Portal Jambu é um espaço de jornalismo experimental com matérias produzidas por estudantes de graduação da Faculdade de Comunicação da UFPA sob a coordenação da Profa. Dra. Regina Lima e do jornalista Marcos Melo.