
Por Kelvyn Gomes/Imagem: Agência Pará
Com os impactos das mudanças climáticas se tornando cada vez mais visíveis no Brasil e no mundo, a preservação da memória documental assume uma nova urgência. Por isso, o Arquivo Público do Pará (Apep) coloca os arquivos no centro das discussões sobre crise ambiental, gestão de riscos e inclusão social, na 9ª Semana Nacional de Arquivos, que promove,ao propor uma reflexão profunda sobre o tema “Mudanças climáticas: preservação e acessibilidade”.
A programação é gratuita, com palestras e exposição virtual no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA). A abertura acontece às 9h, no miniauditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), com a mesa-redonda “Tecnologias para a preservação e difusão em arquivos”, reunindo o professor Décio Guzmán (Faculdade de História/UFPA) e o pesquisador Cristian Mayko Carvalho (Proplan/UFPA). A proposta é debater como tecnologias podem auxiliar na salvaguarda dos acervos em contextos desafiadores como o amazônico, marcado por alta umidade e temperaturas elevadas.
Logo em seguida, às 11h, o especialista Antônio Pacheco Neto ministra a palestra “Conservação de acervos em papel na Amazônia: projetos e desafios”, abordando experiências práticas na região, onde as condições climáticas tornam ainda mais delicada a conservação dos registros históricos. “Queremos pensar como as mudanças climáticas impactam tanto o trabalho cotidiano dos arquivos quanto a preservação de documentos importantes para a memória coletiva”, afirma Leonardo Torii, diretor do Apep.
Ele ressalta a relevância do tema diante de tragédias recentes, como as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 e comprometeram seriamente acervos históricos. “A discussão passa também pela preparação para emergências e uso de tecnologias para recuperação da informação e ampliação do acesso à memória pública”, completa.
Além das atividades presenciais, o público poderá acessar a exposição virtual “As iconografias do Arquivo Público: Arte e História” a partir do dia 10, no site da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult). A mostra ficará disponível até o fim de junho e reúne imagens que transitam entre o artístico e o histórico, reafirmando o papel dos arquivos como fontes vivas de interpretação do passado.
A programação se articula a uma agenda internacional mais ampla. O tema da Semana dialoga com os compromissos da COP-30 e com programas como o Memória do Mundo, da Unesco, que alerta para a fragilidade dos acervos documentais diante de riscos como desastres naturais, má conservação e conflitos. Proteger, identificar e garantir o acesso público a esses acervos é parte fundamental da estratégia global para a salvaguarda da herança documental da humanidade.
Entre os eixos debatidos durante a semana estão práticas sustentáveis nos arquivos, gestão documental como forma de racionalização de recursos e o uso responsável da inteligência artificial, tecnologia que, embora ofereça ferramentas de análise e acessibilidade, também demanda alto consumo energético e levanta questões ambientais.
Outro destaque é o debate sobre inclusão e representatividade na prática arquivística. “É fundamental que as múltiplas vozes da sociedade estejam representadas nos fundos documentais e participem ativamente do fazer arquivístico”, destaca Torii. A proposta da Semana é promover encontros entre profissionais, estudantes, instituições e o público em geral, visando transformar a forma como nos relacionamos com a memória e com os arquivos.